terça-feira, 26 de junho de 2007

Maturidade afectiva

IMATURIDADE E MATURIDADE AFECTIVA Tenho estado a ler um livro de Rafael Llano sobre o tema deste mês. Chama-se "A maturidade" e foi publicado em 2003 pela Quadrante. Nele me baseio para estas reflexões sobre a maturidade da afectividade. Afirma o autor que esta não está encerrada no coração, nos sentimentos, mas permeia toda a personalidade. Por isso, qualquer distúrbio da vida afectiva acaba por impedir ou pelo menos entravar o amadurecimento da personalidade como um todo. Refere-se ao fenômeno de "fixação na adolescência", que se caracteriza por uma afectividade egocêntrica e instável, sintoma da imaturidade afectiva. Com frequência, mesmo em pessoas de alto nível intelectual, ocorre um autêntico analfabetismo afectivo, afirma: encontramos indivíduos truncados, incompletos, imaturos, preparados para trabalhar de forma eficiente, mas absolutamente incapazes de amar. Este facto tem consequências devastadoras: basta reparar na facilidade com que as pessoas se casam e se "descasam", se "juntam" e se separam. Dão a impressão de reparar apenas na camada epidérmica do amor e de não aprofundar nos valores do coração humano e nas leis do verdadeiro amor. A imaturidade no amor Hoje, considera-se a satisfação sexual centrada na própria pessoa como a expressão mais importante do amor. Não o entendia assim o pensamento clássico, que considerava o amor da mãe pelos filhos como o paradigma de todos os tipos de amor: o amor que prefere o bem da pessoa amada ao próprio. Bem diferente é o conceito de amor na nossa época. Parece que se retrocedeu a uma espécie de adolescência da humanidade, onde o que mais conta é o prazer. Este fenômeno tem inúmeras manifestações, entre as quais: - Edifica-se a vida sentimental sobre uma base pouco sólida: confunde-se amor com namoricos, a atração sexual com o enamoramento profundo. - Diviniza-se o amor: a pessoa imatura converte o outro num absoluto, o que se paga muito caro. É natural que ao longo do namoro exista um deslumbramento que impede de reparar na realidade, o que Ortega y Gasset designou por "doença da atenção". No imaturo, o amor fica "cristalizado", como diz Stendhal, nessa fase de deslumbramento, e não aprofunda na "versão real". Quando o amor é profundo, as divergências que se descobrem acabam por superar-se; quando é superficial, por ser imaturo, provocam conflitos e frequentemente rupturas. - A pessoa afetivamente imatura desconhece que os sentimentos não são estáticos, mas dinâmicos. São suscetíveis de melhora e devem ser cultivados no viver quotidiano. São como plantas delicadas que precisam ser regadas diariamente. A pessoa consciente, madura, sabe que o amor se constrói dia após dia, na luta por corrigir defeitos, contornar dificuldades, evitar atritos e manifestar afeição e carinho. - Os imaturos preferem receber do que dar. Quem é imaturo quer que todos sejam como uma peça da máquina da sua felicidade. Ama somente para que os outros o realizem. Amar para ele é uma forma de satisfazer uma necessidade afectiva, sexual, ou uma forma de auto-afirmação. Mas esse amor, que não deixa de ser uma forma de egoísmo, desemboca na frustração. Procura cada vez mais atrair os outros para si e os estes vão progressivamente afastando-se. Acaba abandonado por todos, porque ninguém quer submeter-se ao seu egocentrismo; ninguém quer ser apenas um instrumento da felicidade alheia. Nos sentimentos deve haver reciprocidade. A pessoa imatura acaba sempre por se queixar da solidão que ela mesma provocou por falta de espírito de renúncia. Como diz Rojas: "Não há felicidade se não há amor e não há amor sem renúncia. Um segmento essencial da afectividade está tecido de sacrifício. Algo que não está na moda, que não é popular, mas que acaba por ser fundamental". Relata o autor que um amigo lhe referira que um seu primo, muito egoísta, se tinha casado e separado várias vezes. Respondera ao seu cartão de Natal dizendo que assinava ele e a sua gata - estampando a sua pata no cartão -, pois esse animalzinho era o único que o amava. O imaturo pretende introduzir o outro no seu projecto pessoal de vida, em vez de tentar contribuir com o outro num projecto construído em comum, próprio do verdadeiro amor; a dedicação aos filhos e o empenho na realização do cônjuge constitui um factor importante para a estabilidade afectiva do casal. Quem não é solidário termina solitário. Ou juntando-se a uma "gatinha", seja de que espécie for.

2 comentários:

S. Leite disse...

Muito interessante e elucidativa, esta sua exposição. Obrigada pela partilha!

H.Pratas disse...

Obrigada pela sua simpatia! Publico uma notícia sobre ensino do português que talvez lhe interesse!