terça-feira, 8 de abril de 2008
Acordo ortográfico: sim ou não?
O Acordo Ortográfico foi amplamente discutido na sala do Senado da Assembleia da República: catedráticos, linguistas, editores pronunciaram-se. Depois enfrentaram-se Vasco Graça Moura e Carlos Reis. Quanto chegou a vez dos deputados, estes mostraram-se divididos pela argumentação convincente, tanto de Vasco Graça Moura como de Carlos Reis, que esgrimiram argumentos contra e a favor do acordo ortográfico. Este, ratificado em 1990, voltou uma vez mais ao Parlamento, em proposta apresentada pelo Governo, para facilitar a entrada em vigor do acordo de 1990 desde que pelo menos três dos oito países contratantes os ratifiquem. Os deputados do PS, PSD, PCP e CDS-PP alinharam pelo mesmo tom: abertura de espírito para valorizar todos os argumentos e pontos de vista; e reserva em desvendar o sentido de voto final, que apenas foi revelado pelo representante do Bloco de Esquerda (BE) que será de apoio ao acordo. A prudência dos deputados talvez tenha a ver com a eloquência e as intervenções - brilhantes - dos dois convidados especiais da audição parlamentar - Vasco Graça Moura e o catedrático de Coimbra e reitor da Universidade Aberta, Carlos Reis. Eurodeputado do PSD e escritor, Graça Moura não poupou palavras no ataque ao documento. A começar no título da intervenção - "Acordo ortográfico: a perspectiva do desastre", acusou o Acordo de servir "interesses geopolíticos e empresariais brasileiros, em detrimento de interesses inalienáveis dos demais falantes de português no mundo", em especial de Portugal, e de representar "uma lesão inaceitável de um capital simbólico acumulado e de projecção planetária".Vasco Graça Moura distribuiu pelo documento críticas de carácter jurídico, processual (o Governo "não consultou nenhuma Universidade, nem o Conselho de Reitores, nem a Associação Portuguesa de Escritores, nem a Sociedade de Língua Portuguesa") e, sobretudo, de carácter técnico. Os defensores do Acordo, disse, não deram resposta até hoje "a nenhuma das críticas científicas" formuladas por linguistas. "O único objectivo real de toda a negociação do Acordo", acusa, foi o de suprimir as consoantes mudas ou não articuladas "c" e "p", o que levará a "homogeneizar integralmente a grafia portuguesa com a brasileira (...) desfigurando a escrita, a pronúncia e a língua que são as nossas". Carlos Reis defendeu o Acordo: "a minha única preocupação é com a Língua Portuguesa como idioma dividido por oito países."O que está em causa neste acordo ortográfico, disse, "é aproximar o modo como escrevemos do modo como falamos (...). Há alguma ofensa cultural se passo a escrever "elétrico" em vez de "eléctrico"?", perguntou; quis saber se Portugal se deve manter agarrado a uma "concepção conservadora da ortografia"; se serão os interesses das editoras "absolutamente determinantes para condicionarem decisões de amplo alcance a alargado espectro cultural"; se "podem alguns portugueses persistir em encarar o Brasil como um parceiro menor neste processo ou até como um inimigo"; e se Portugal tem o direito de colocar obstáculos.
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