sexta-feira, 11 de maio de 2007

Hipertrofias e atrofias (II) A vontade, esquecida na educação?

ATROFIA DA VONTADE, esquecida na educação? Tem um grande peso considerar que um bom centro educativo é aquele que consegue um ensino intelectual de qualidade e obtém bons resultados académicos. Este facto pode levar a descuidar a formação nas restantes dimensões da personalidade, em concreto, a descurar a importância decisiva da formação da vontade, assim como da afectividade. No entanto, estas várias dimensões do psiquismo humano estão intimamente unidas e interrelacionadas. Efectivamente, a vontade livre pressupõe e exige o conhecimento para se autodeterminar; a vida afectiva requere, por sua vez, a lucidez intelectual e o equilíbrio sentimental; e também a inteligência necessita do dinamismo da vontade e do impulso dos sentimentos. Cada vez se constata com maior evidência, que as crianças e os jovens necessitam de fortalecer a vontade e de um equilíbrio integral psíquico para o desenvolvimento da inteligência e para a dedicação intensa ao estudo. Numerosos pedagogos, filósofos e psiquiatras acusam a educação de ter descuidado excessivamente a educação da vontade. Um deles, Pujals, afirma que um dos problemas mais graves – entre outros - a nível da educação, reside em que a vontade “é a grande esquecida da cultura contemporânea, e esse esquecimento paga-se sob a forma de graves crises pessoais e sociais. A união familiar e social e a própria educação na sua essência estão abaladas por falta de uma teoria e de uma prática adequadas da vontade. No período que atravessamos é costume dar-se uma importância quase absoluta às circunstâncias externas, do ambiente e dos procedimentos. Não é que não a tenham, têm-na e muita; mas entendendemos que o mais importante do homem é o espírito e que, na função educativa, a vontade é um elemento fundamental que está a ser lamentavelmente descuidado”. É necessário vencer-se uma e outra vez, nos gostos, nos estímulos, nas inclinações imediatas, para forjar a força de vontade. As fórmulas para a educação da vontade pertencem a estudos especiais de psicologia e pedagogia. Aqui, apenas se quer chamar a atenção para a importância decisiva deste tema. Se os pais e restantes educadores pusessem mais empenho na formação da vontade, o conjunto da tarefa educativa alcançaria maiores êxitos, alerta o psiquiatra Rojas, num livro que intitulou “A conquista da Vontade”.

2 comentários:

TC disse...

Como mãe de família, e é nessa qualidade que escrevo, creio que hoje em dia se confunde afectividade com facilitação: para muitos, amar um filho significa retirar-lhe do caminho todos os escolhos que possam dificultar o seu percurso para a vida adulta.
Isso resultará da melhoria de qualidade de vida que, e graças a Deus, se verificou nos últimos 30 anos: ainda bem que aumentou o nível de escolaridade da população portuguesa, ainda bem que essa população tem acesso ao conforto de uma casa bem equipada, a automóvel(eis), a férias para disíacas, a..., a..., a...
Os filhos de "hoje" têm direito a tudo o que os filhos de "ontem" não tiveram, porque iam a pé para a escola, porque os mais novos usavam a roupa que ia passando sucessivamente do filho mais velho para o irmão que lhe ficava imediatamente abaixo, porque as famílias eram vulgarmente constituídas por 6 filhos, quando não iam até aos 12, porque a alimentação tinha de ser mais austera (sem profusão de bolos, pisas ou amburguers), porque não tinham tanto dinheiro na mão para poderem ir a discotecas, ao cinema, ou passarem a tarde no café a beber imperiais e coisas que tais...
E esquecemos, os pais de hoje, na preocupação de dar aos filhos "tudo" o que nós não tivemos e a que eles têm direito pelo simples facto de terem nascido, que ao facilitarmo-lhes a vida enquanto estão dependentes de nós, estamos a dificultar-lha altamente, quando tiverem de ser responsáveis por ela. Demos-lhes tudo, sem terem de conquistar nada, sem fazerem o mínimo esforço para o ganhar. Não sabem o goso que dá realizar um sonho com o "suor do rosto"; não criaram a tal força de vontade, a tal "garra" que são necessárias para vencer na vida!
E habituámo-los mal, porque, em tantos casos, não vão poder manter o nível de vida que lhes proporcionámos. E depois vem a frustração, vem o endividamento, vem, o divórcio, porque é muito fácil habituarmo-nos a ter o que não tínhamos, mas deixarmos de ter o que sempre tivemos...

E se soubessem os filhos de hoje os momentos BONS que passámos, simplesmente a conversar, reunidos com os amigos ou em família, à volta de uma viola, a cantar em grupo, como gostávamos de vestir a roupinha "de ver a Deus" e, quando se podia, ir ao cinema, ou jantar fora, ou à discoteca, em grupo e com os irmãos mais velhos a tomar conta de nós e a zelar pela nossa integridade física e bom nome!
E eu não sou das que me tenho de queixar, fui privilegiada em tudo: tive uma família unida, 5 irmãos maravilhosos e um óptimo grupo de amigos. Pude ter tudo o que fazia falta e várias coisas mais. Para as extravagâncias, poupávamos na semanada!
Mas houve exigência, mas houve aquela formação da personalidade que actuamente está esquecida ou delegada para 2º plano.

TC

H.Pratas disse...

Muito obrigada por este comentário com o qual concordo plenamente... e que me faz recordar a minha própria juventude! Que saudades!