HIPERTROFIA DA AFECTIVIDADE?
Como consequência do processo debilitador existente na cultura actual, relativamente ao pensamento e à vontade, a que aludimos anteriormente, a pessoa é entendida, com frequência, em função da sua afectividade e das tendências inconscientes; estas teorias penetraram quase por osmose, pela rápida expansão da psicanálise, de propagandas e publicidade e do bombardear constante dos meios audiovisuais de comunicação. Há uma mentalidade generalizada no ambiente que se manifesta em modos de entender a vida, a pessoa, as relações interpessoais e a própria existência. A esta redução do homem à dimensão afectiva – que já foi chamada “antropologia da miséria” - corresponde um “emotivismo ético” em palavras do filósofo MacIntyre. Ou seja, o homem, debilitado na razão e na vontade, e portanto extremamente frágil como sujeito, confia a conduta unicamente à dimensão afectiva, à emoção do momento.
A afectividade seria a dimensão central da vida humana e, como tal, “criaria” o bem e os valores morais e competir-lhe-ia reger a conduta. A afectividade, à flor da pele, determinaria em cada caso o bem e guiaria a actuação da pessoa, levando-a a procurar sempre o prazer e a utilidade e a fugir da dor e do sofrimento. Nisto consistiria a “felicidade” da pessoa em função da qual tudo seria permitido e justificado: eis o modelo ético vigente, profundamente hedonista e permissivo. A verdade e o bem objectivos são vistos como algo não só irrealizável, mas como praticamente inexistentes. Gera-se, na prática, uma atitude abertamente hostil aos valores objectivos: ao amor autêntico, à vida, ao sacrifício, etc.
A afectividade pertenceria ao plano inconsciente e estaria fora do domínio da liberdade e da consciência, e portanto, fora da responsabilidade pessoal. Tudo o que se sente – amor, simpatias e antipatias, gostos, insatisfações, estados de ânimo, etc. – pertenceria ao âmbito da necessidade; não haveria nada a fazer perante os gostos, “vontades” ou falta delas, atracções e tudo o que pertence ao dinamismo afectivo. Tudo seria “natural”, no sentido de espontâneo.
sábado, 12 de maio de 2007
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