sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Educação e desenvolvimento harmonioso da personalidade (II)

Como já referimos aqui, noutra ocasião, uma das mais importantes finalidades de pais e educadores é a de ajudar a alcançar uma personalidade equilibrada e serena, plena de maturidade.
Como todos sabemos, não é fácil definir a maturidade. Como muito bem explica R. Llano, num livro sobre este tema, podemos detectá-la em pessoas determinadas, assim como perceber a sua falta, de um modo evidente, noutras pessoas. Sabemos que a idade cronológica nem sempre significa, nem implica necessariamente a maturidade da pessoa. Há adultos com atitudes infantis e crianças com reacções de pessoas adultas.
Constatamos que a maturidade não se identifica com uma idade determinada, nem se alcança só com o passar dos anos – embora esse facto ajude, de um modo habitual -. Também não é simplesmente a perfeição que uma pessoa consegue alcançar, de um ponto de vista exclusivamente humano, nalgum aspecto particular.
Considerada em profundidade, a maturidade pessoal – que podemos também designar como liberdade responsável, ou personalidade equilibrada, ou ainda carácter bem formado - é consequência do desenvolvimento pleno e harmonioso de todas as capacidades da pessoa. A maturidade não é algo estático, mas dinâmico: não há um momento em que se pode considerar uma conquista completamente acabada, como uma qualidade estática. Da mesma forma, também o crescimento da personalidade não tem limites etários: nunca é tarde para aprender e melhorar a própria personalidade. Llano faz até uma afirmação forte: TEMOS HOJE, UMA “MASSIFICAÇÃO DA IMATURIDADE”. Segundo ele, não parece ousadia dizer, que existe, nos nossos dias, uma “massificação da imaturidade” proveniente de uma cultura superficial e egocêntrica, carente de valores humanos fundamentais, com traços típicos de uma imaturidade social e individual de vastas proporções. Como escreve certeiramente um outro autor contemporâneo: “no clima cultural da nossa sociedade de consumo, existem fortes condicionantes que tornaram a imaturidade um fenómeno globalizado. A propaganda maciça, persistente, persuasiva, tecnicamente sofisticada, condiciona a comprar, a gastar, apelando para as motivações e as paixões mais primárias: o amor, o prazer, o conforto, a ânsia de sucesso, de status” (E. Rojas). Para ser feliz é necessário comprar o carro da marca X e o telemóvel da marca Y; morar no condomínio Z..., repetem os anúncios, a televisão, a rádio. Verdadeiros bombardeamentos que desenvolvem uma necessidade premente de comprar: muitas das pessoas, incapazes de reagir, gastam, gastam e gastam...; gastam até o que não têm... O tipo de imaturidade próprio da nossa época manifesta-se nalguns fenómenos típicos deste início do terceiro milénio: o hedonismo permissivista, o relativismo moral e a frivolidade existencial. Todos eles alinhavados por um materialismo prático, que valoriza a pessoa de acordo com o saldo da sua conta bancária. O hedonismo, o prazer como lei máxima do comportamento, e a dependência do prazer imediato é um sinal claro de imaturidade: a criança quer o que é bonito, o que se apresenta como novidade, o que dá um prazer novo... E o que quer, quere-o imediatamente, não pode esperar. E este é um facto que se difunde na sociedade consumista dos nossos dias: também não pode, nem quer, esperar. E o crédito está (ou tem estado) sempre à sua espera, constantemente oferecido, e para já! Na nossa época, o relativismo moral tornou-se semelhante a um novo código de ética. Os juízos de valor não obedecem a um critério permanente, o comportamento é bom ou mau em função das circunstâncias, do ponto de vista pessoal, da opinião da maioria... Há um crepúsculo de valores que pode chegar a ser dramático. Não se procura viver e proclamar a verdade, mas relativizar a verdade para que sirva às próprias conveniências e desejos. O homem de hoje perdeu a bússola que marca o norte objectivo, orienta-se na direcção do vento que sopra mais forte: é um cata-vento, afirma Rafael Llano. Na mesma linha, Enrique Rojas, catedrático de Psiquiatria da Universidade de Madrid e um bom analista do nosso tempo, escreve, num livro que está traduzido em português "O homem light": O homem de hoje – em não pequena medida – não sabe para onde vai; está perdido, sem rumo, desnorteado. Temos dois exemplos claros: nos jovens, a droga, e nos adultos, as rupturas conjugais. Ambos os aspectos nos colocam diante da fragilidade existente nos nossos dias". Como faltam os valores, faltam também os compromissos. Os compromissos representam estabilidade; os desejos levam à versatilidade. Estes, tal como as sensações, variam de acordo com os estados de ânimo ou a situação orgânica. A vida vai-se tornando superficial, sem profundidade, desliza pela rampa da frivolidade: No homem essencialmente frívolo, não há questionamentos ideológicos nem inquietações culturais. Quais são as suas principais motivações? Todas aquelas que Gilles Lipovetsky denominava o “império do efémero”. Uma sociedade dominada pelo frivolidade não é capaz de estabelecer sistemas, teorias ou esquemas possíveis para a vida. A regra de ouro é a ‘superficialidade’. Esta frivolidade e imaturidade existencial encontram-se em todos os níveis sociais. As Universidades – diz Warren Bennis – estão a preparar multidões de especialistas míopes que podem ser muito bons a ganhar dinheiro, mas que, como pessoas, são imaturas, inacabadas. Foram ensinados a fazer, mas não chegaram a aprender a ser!

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