sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Educação e desenvolvimento harmonioso da personalidade (I)
Educar é ajudar a desenvolver e a aperfeiçoar as imensas potencialidades que existem no ser humano. Quase todos os agentes educativos estão de acordo em afirmar que a educação deveria abarcar a pessoa na sua globalidade, ou seja, que só é autêntica educação a que tiver como objectivo a formação integral da pessoa humana. Sem pretender aqui considerar as concepções do homem que estão subjacentes nas várias escolas ou correntes pedagógicas, é importante ter em conta que há antropologias insuficientes, sobre as quais é impossível alicerçar uma educação verdadeira e consistente, pois facilmente descuram alguma das dimensões da pessoa. É importante considerar a pessoa na totalidade das suas dimensões, para não correr o risco de as desleixar na tarefa educativa. A educação deve ter em conta a pluralidade das dimensões da pessoa: a sua condição de ser racional, inteligente e livre, de ser social, de ser histórico, inseparável do tempo, ao longo do qual vai construindo a sua personalidade, de ser ético – capaz de distinguir o bem do mal -, de ser aberto aos outros e aberto à transcendência no mais profundo do seu ser. A pessoa humana não é um mero espírito, nem é só um corpo, mas um ser complexo no qual as várias dimensões devem ser integradas em íntima unidade. As várias dimensões da pessoa – inteligência, vontade livre, afectividade, corporalidade - estão intimamente unidas. Com efeito, a vontade exige o conhecimento, a vida afectiva requer lucidez intelectual e equilíbrio psíquico; por sua vez, a inteligência reclama o concurso da vontade e o impulso dos sentimentos. Daí que, qualquer tentativa de desenvolvimento da pessoa humana só nalgum dos seus aspectos, conduz ao fracasso.
Educar a pessoa é a tarefa conjunta de cultivar a inteligência, de alcançar uma vontade forte e de conseguir um equilíbrio justo na manifestação e domínio da vida afectivo-sentimental. E o desenvolvimento dessas dimensões humanas conduz necessariamente a cultivar a liberdade. Em última instância, educar a pessoa é possibilitar-lhe o uso inteligente e responsável da sua liberdade.
Como salienta o pedagogo A. Fernandez, é frequente que as escolas educativas não consigam unir as diferentes facetas da pessoa, com o risco de que esta não desenvolva as realidades que estão inscritas no mais profundo do seu ser. Nesse caso, a educação – e o educando - sofreria de uma espécie de “esquizofrenia”, doença que gera a divisão mais profunda no ser do indivíduo. E a unidade psicológica é exigida pela própria estrutura da pessoa. É frequente que as diferentes escolas cultivem preferentemente a inteligência, menosprezando ou descuidando outros aspectos não menos importantes. A história da educação mostra que as alternativas podem ser múltiplas. Mas, seja qual for o caso, não se alcança a unidade nem se cultiva o desenvolvimento harmonioso da personalidade humana.
Seria exagerado e injusto afirmar que o objectivo da formação da personalidade tem estado ausente do ideário educativo. Muitas famílias a desejam para os seus filhos e procuram as instituições educativas que lhes parecem mais capazes de a levar a cabo. No entanto, é duvidoso que esse objectivo corresponda a um plano homogéneo, bem estruturado, por parte da grande maioria das escolas. A culpa não é só dos centros educativos. A situação é complexa: a crise da família, as mudanças sociais profundas, as variações nos costumes e nos valores, dificultam em grande medida, levar à prática um programa educativo que considere todas as dimensões da pessoa e que procure associar nesta tarefa todos os elementos que confluem na educação: as famílias, o centro educativo em si mesmo, o plano geral de formação, os programas de estudo, a direcção do centro, os professores.
Nas escolas, a educação intelectual ocupa, sem dúvida, um lugar primário. Mas esta não se identifica com um acumular de conhecimentos que se armazenam na memória. Os pais não desejam apenas que os seus filhos aprendam “muitas coisas”, mas que consigam integrar os diferentes ensinamentos que recebem, de modo a enriquecer a sua vida como pessoas. O “saber” não basta, deve conduzir à sabedoria. Não é suficiente a mera aquisição de conhecimentos, mas aprender a reflectir, a compreender e a relacionar o conjunto dos saberes. É necessário acentuar a íntima relação que existe entre os diversos saberes e entre estes e a vida real das pessoas. Em muitos casos, a falta de interdisciplinaridade e o conhecimento escasso e fragmentado, incapacitam para conduzir a uma visão unitária e orgânica do saber. Além disso, não basta relacionar entre si os diversos conteúdos. Pela sua própria natureza, o conhecimento humano remete a um conhecimento último que explica o “quê” e o “porquê” do conjunto da realidade. A inteligência humana procura respostas às perguntas últimas, deseja encontrar a resposta sobre o sentido da vida e da existência. Do ponto de vista da formação intelectual, é decisivo ajudar a desenvolver uma disposição constante de rigor, de reflexão, de valorizar mais a verdade do que a opinião, de aprofundar os assuntos, sem ficar em respostas superficiais, devolver a confiança na razão e o amor à verdade.
É igualmente importante ter em conta que existem diversos tipos de “realidade”: é real o que é físico, mas também o psíquico; são reais os valores que a ética propõe e também são reais os diversos âmbitos da vida espiritual. O amor, a amizade, a laboriosidade, a justiça, a honradez, a sinceridade, o bem e o mal, os diversos valores, encerram uma grande densidade de realidade. Na educação não pode estar ausente um verdadeiro esforço de aperfeiçoamento, de dignificação e de aprofundamento dos valores humanos. A formação integral implica também o comportamento ético, a educação nos valores e nas atitudes.
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Um comentário:
Fala-se muito do Indice de Desenvolvimento (IDH) e, mais recentemente se fala do Indice da Felicidade Humana ou Felicidade Interna Bruta (FIB) no lugar do Produto Interno Bruto (PIB). Eu acrescentaria a necessidade de se ter o Índice de Desenvolvimento da Pessoa Humana (IDPH)que subsituiria o índice de Escolaridade da Pessoa Humana (IEPH). Chego a conclusão que cada pessoa humana está em um nível de desenvolvimento como pessoa humana. Isso poderia ser medido.
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