terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O fenómeno dos gangs juvenis

Num livro muito interessante - Educar para a amizade - Gerardo Castillo descreve o fenómeno dos gangs juvenis. Explica que a expressão "gang" se usa normalmente para designar um grupo de adolescentes ou jovens que se comportam de modo anormal, podendo chegar à violência e ao crime. Os gangs adolescentes ou juvenis são sobretudo um fenómeno masculino, pois os gangs formados por raparigas não passam de cerca de três a cinco por cento do total. A UNESCO dispõe de uma estatística que analisa a composição dos gangs por idades: 7% estão integradas por menores de doze anos; 15% por adolescentes de doze a catorze anos; 38% têm membros de catorze a dezasseis anos; e 40% estão compostos por jovens de dezoito anos ou mais. Embora o fenómeno afecte de modo predominante os jovens (daí a sua denominação de gangs juvenis), no entanto já existem gangs delinquentes na pré-adolescência. A precocidade na conduta criminosa ou anti-social intencional e organizada tem vindo a crescer na sociedade actual, a ponto de surgirem cada vez mais casos na idade escolar, o que parece estar relacionado com as deficiências que se verificam nalguns ambientes familiares e sociais. Esse tipo de gangs é mais frequente entre as classes sociais de baixa rendimentos e nas zonas periféricas dos grandes centros urbanos, embora o problema não seja exclusivo desses sectores. Cada vez há mais rapazes das classes média e alta que os integram. O gang juvenil delinquente corresponde a um desvio de direcção da turma adolescente normal. Esta desvia-se do rumo normal quando os que a integram sofrem de certos problemas de personalidade, fomentados muitas vezes por erros na vida familiar e por estímulos negativos do ambiente. Cada vez é menos válida, infelizmente, a afirmação de que os gangs juvenis são um fenómeno excepcional ou raro. Hoje em dia, todas as famílias estão expostas, em maior ou menor grau, a que algum dos filhos chegue a fazer parte de um deles. À primeira vista, causa surpresa verificar que a adaptação à vida do grupo é muito mais forte nas turmas anti-sociais do que nas turmas normais de adolescentes. Ao passo que o adolescente normal mantém certa distância na sua identificação com o grupo, o adolescente que pertence a um gang adapta-se inteiramente a uma vida que exige obediência cega. Não é paradoxal que jovens socialmente inadaptados se adaptem perfeitamente às rígidas normas dos bandos juvenis? Segundo Reymond-Rivier, que analiza o fenómeno, a explicação é simples; para o adolescente "normal", a vida dentro do grupo de amigos é somente uma fase transitória , que visa a autonomia pessoal, ao passo que o gang representa um ponto de chegada para o adolescente que sofre de alguma frustração grave. Inicialmente, o gang juvenil é um agrupamento espontâneo. Mas em breve, se estrutura de forma completa. Surge um líder que manda e produz-se uma divisão de trabalho de acordo com as capacidades de cada membro: o "cérebro", que proporciona ideias ao líder; o "palhaço", que diverte todo o grupo, etc.; e aparecem também os elementos ou sinais que conferem ao gang uma personalidade própria, como o "quartel general" e a "gíria secreta". O gang juvenil apresenta-se como um grupo muito fechado, com extrema continuidade, organização e disciplina. A solidariedade entre os seus membros é muito maior do que nos agrupamentos "normais", porque isso é fundamental para conseguir "êxito", uma vez que "a força da turma patológica reside na sua extrema unidade: o bando funciona como um só homem", afirma o autor. Outra diferença relativamente às turmas normais consiste nos motivos e circunstâncias que favorecem a coesão do grupo. Os membros da turma unem-se e ajudam-se mutuamente para realizar pacificamente actividades normais, como acampamentos, excursões, etc., e para compartilhar problemas normais, próprios da idade. Os componentes de um gang, pelo contrário, agrupam-se porque têm problemas especiais; o grupo passa a ser um refúgio para as frustrações pessoais e nasce com uma finalidade criminosa. Pode dizer-se que, em regra, o gang juvenil é formado por rapazes que se encontram em conflito com os outros, sejam eles pais, companheiros de estudo, adultos em geral; mas, por sua vez, o bando inteiro está em conflito permanente com outros grupos ou gangs. O líder ou cabecilha é uma peça-chave. É graças a ele que se mantém a unidade do grupo e a sua capacidade operativa. O líder sugere aos membros a realização de actos a que estes não se atreviam por medo. Graças ao papel do cabecilha, os jovens enganam a voz da sua consciência, em oposição dos adultos. O líder identifica-se com as insatisfações dos seus companheiros, fala-lhes na linguagem que esperam dele, dá vazão à agressividade que acumularam e tranquiliza-os nos momentos difíceis. Exerce uma autoridade despótica à qual todos se submetem, e assim pode impor-se sem discussão e evitar possíveis rebeldias e dissidências que poriam em perigo a existência do grupo e a consecução dos seus objectivos. A sua autoridade emana tanto do facto de ser um líder natural, como da situação de perigo em que o grupo vive quase continuamente. O líder do gang possui qualidades especiais para a acção, superiores às dos restantes membros do grupo. É decidido, rápido e enérgico. O seu traço principal é a ousadia: audaz diante do perigo, caminha à frente, e os outros sentem-se seguros com a sua presença.
São aspectos que tanto os pais como os educadores têm todo o interesse em conhecer. O livro "Educar para a amizade" encontra-se traduzido para português pela editora brasileira Quadrante, e recomenda-se!

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