Uma sociedade à medida da família?
Recordo com frequência um professor que tive, Rafael Alvira. Referia-se à família como âmbito de personalização e de socialização. Ao ser a família o berço da vida na qual o homem nasce e cresce, considerava-a, não só como a primeira e principal escola educativa, mas o modelo e paradigma de todo o tipo de sociedade. Defendia que um dos elementos mais importantes da família é o amor, na sua dupla relação: amar e ser amado; é difícil amar se não se tem a experiência de ser amado. E só na família a pessoa é querida pelo que é, de modo incondicional. Como consequência, a família é o campo de cultivo da confiança e da liberdade responsável.Pretendia uma sociedade à medida da família, como a melhor garantia contra o individualismo ou o colectivismo, porque nela a pessoa está sempre no centro da atenção: nunca é vista ou tratada como um meio. Afirmava, convicto, que qualquer outra sociedade pode encontrar nela o seu modelo. Como só a família personaliza, o espírito familiar deveria estar de algum modo presente nas outras sociedades, para que também estas fossem capazes de o fazer. Para voltar a personalizar a sociedade, a solução deveria passar pela família como estrutura de personalização. Foi uma perspectiva inovadora, sobre a qual tenho reflectido com frequência.Na nossa época, os sucessos da ciência e da técnica permitem alcançar, num grau até agora desconhecido, um bem-estar material que, favorece uns, mas conduz outros à marginalização. A sociedade actual, inspirada na mentalidade de consumo e organizada sobre critérios de eficiência e de produtividade, cada vez mais individualista, torna especialmente necessária uma nova sensibilidade pelo homem em todas as circunstâncias. Face a uma sociedade que corre o perigo de ser cada vez mais despersonalizada e tantas vezes desumana, na família reside a capacidade de tirar a pessoa do anonimato, de a manter consciente da sua dignidade e dessa forma a inserir eficazmente no tecido social.
Labels: Educação, Família
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