segunda-feira, 6 de setembro de 2010

LIBERDADE SEM VERDADE?

Nesta época de grandes transformações que atravessamos, toda a Educação - e também a Universidade - está em processo de renovação. Neste processo há que evitar o risco de diminuir o saber e sacrificar a profissionalidade docente a uma aprendizagem de tipo utilitário e pragmático. Porque o Professor é um mestre. Não deve transmitir o saber como se fosse um objecto de uso e consumo, mas estabelecer uma relação sapiencial que, mesmo quando não pode chegar ao encontro pessoal com cada um dos estudantes, não deve limitar-se a uma mera transmissão de noções; o mestre oferece um contributo decisivo à própria estruturação da personalidade, mesmo quando não se propõe fazê-lo; segundo a antiga imagem socrática, ajudando a descobrir e a pôr em prática as capacidades e os dons de cada um; não se limita à necessária aquisição de competências profissionais, mas enquadra-as numa sólida construção de vida. A Educação é força que ilumina o conhecimento, que liberta do servilismo e torna capaz de fazer o bem. As jovens gerações esperam dos seus mestres novas sínteses do saber, não de tipo enciclopédico, mas humanista. Para tal, é fundamental superar a dispersão que desorienta e estimular o empenho da investigação e, ao mesmo tempo, ajudar a pôr o saber ao serviço do homem e não contra o homem. A liberdade de investigação não deve significar neutralidade indiferente perante a verdade. A busca da verdade deve estar unida à capacidade para perscrutar o sentido dos acontecimentos e para valorizar as descobertas mais audazes, sem as usar contra a pessoa e a contra a sua dignidade. A Universidade deve dar testemunho da dignidade da razão humana, das suas exigências e da sua capacidade de investigar e conhecer a realidade, superando o cepticismo, as reduções do racionalismo e do pensamento frágil. Deve superar a tentação de um saber que cede ao pragmatismo ou que se dispersa nos veios da erudição, tornando-se incapaz de dar sentido à vida; deve abrir-se ao nexo lógico entre a liberdade da investigação e o conhecimento da verdade, sem ceder ao clima relativista que insidia a cultura actual e leva a abandonar-se à volubilidade das opiniões e à prepotência dos mais fortes, mesmo quando esta se traduz no voto da maioria. Uma Universidade que perde o seu perfil de procura e de paixão pela verdade, que se desinteressa da sua função educativa e do futuro do homem deixa de merecer esse nome. Porque uma cultura que ignora a verdade torna-se um perigo para a liberdade. Se a Universidade abre as portas ao conhecimento da realidade, abre também as portas à esperança, tão necessária na cultura actual, profundamente impregnada de pessimismo.

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