quarta-feira, 21 de março de 2012

Uma Educação para a Cidadania abrangente (IV)

É urgente a educação para uma nova cidadania. Não uma cidadania entendida como simples educação cívica, mas num sentido mais abrangente. É na educação que se preparam as futuras gerações para os problemas da convivência humana, que se desperta a consciência da dignidade da pessoa, se convida ao diálogo, à compreensão recíproca, a uma nova solidariedade mundial que permita enfrentar e resolver os problemas da justiça no mundo, do respeito, da liberdade, da paz da humanidade. Para construir a coesão social e a paz que o mundo anseia não basta uma disciplina de educação cívica, desvinculada de princípios éticos: cada vez é mais patente que o vazio moral gera a violência (Barrio 1988). Também não é suficiente uma reflexão sobre problemas ou dilemas éticos, pois, como já dizia Aristóteles, na Ética a Nicómaco, a finalidade da ética não é saber o que são acções boas mas ser capaz de as fazer. Não significa que não seja importante o conhecimento ético, mas este ordena-se à acção, ou seja, é fundamentalmente um saber prático. Já os gregos tinham o ideal da paideía – a formação cívica e moral do cidadão – e consideravam-na a condição de possibilidade de toda a democracia real. Efectivamente, o chamado ‘desarmamento moral’ é, não só para a democracia, como para qualquer sociedade, uma doença mortal. É necessário mostrar com clareza e promover eficazmente uma série de valores que são necessários, e mesmo imprescindíveis para a convivência social. A educação política e cívica tem de ser ancorada numa educação ética, capaz de ajudar as pessoas, não a serem súbditos mansos do sistema, mas verdadeiros cidadãos dispostos a viver uma vida na verdade, como disse Vaclav Havel (Havel 1990).

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